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Melancolia (Melancholia)

É comum perceber que os cineastas estão entre os humanos com mais problemas de ego, mas o caso do dinamarquês Lars Von Trier se destaca. Desde que consolidou seu nome em todo o mundo com o apoio do marketing conquistado com o movimento Dogma 95, o diretor usa o que pode para inflar o seu ego e, consequentemente, atingir um nível ainda maior de genialidade em suas obras. Porém, se com Anticristo ego e genialidade estiveram em nível quase insuportável, com o seu novo filme, Melancolia o limite foi rompido, e a qualidade muitas vezes dá lugar ao pedantismo.

Não há dúvidas de que as declarações de Von Trier em Cannes, em que o cineasta chocou público, imprensa e organizadores ao defender ideias de Hitler, são apenas mais uma forma de chamar a atenção para o filme, assim como ele já havia feito em outros momentos de forma mais sutil. Se desta vez o diretor foi longe demais no marketing, não é diferente na maneira em que ele desenvolve sua nova obra, sobre a possibilidade do choque entre a Terra e um planeta perdido, chamado Melancolia.

Na primeira parte do filme, o acontecimento astronômico é apenas um pano de fundo sem grande importância. O que gira a trama é o casamento da publicitária Justine (Kirsten Dunst) com Michael (Alexander Skarsgård). Mesmo feliz pelo grande dia, a jovem sente que algo está errado com ela, e reluta em estar na festa. A presença de algumas pessoas no local, no entanto, torna tudo ainda pior, criando um clima de constrangimento para a maioria dos convidados e, principalmente, para o noivo.

Alguns dias após a cerimônia, Justine passa uma temporada na casa de sua irmã Claire (Charlotte Gainsbourg) e do marido dela, John (Kiefer Sutherland), um milionário apaixonado por astronomia que tenta tranquilizar a família a respeito dos boatos de que a Terra vai se chocar com Melancolia. À medida em que o tempo passa, e que o planeta intruso se aproxima, a relação entre todos na casa vai mudando, e cada um revela sentimentos que tentava esconder. Apenas Justine permanece serena, como se estivesse escondendo um grande segredo de todos.

Pelas primeiras cenas do filme já é possível perceber que o filme se pretende grandioso. Von Trier mostra um clipe com uma estética de ensaios de moda, em câmera lenta, que dão ao espectador um misto de deslumbramento e inquietação. Esta sensação se mantém durante toda a projeção, que é dotada de atuações incríveis, cenas de uma beleza ímpar, e um roteiro recheado de uma pretensão e arrogância muito maior do que em qualquer outro filme do diretor. Tanto que chega a macular o resultado final.

Fosse original, Melancolia já teria potencial para desagradar a muitos, mas nem mesmo esta qualidade o filme contém. Se a primeira parte lembra a todo momento de Festa de Família, sucesso dinamarquês dirigido em 1998 por Thomas Vinterberg, o resto do filme tem claras inspirações no fracassado Dogma do Amor, filmado pelo mesmo diretor em 2003. Não custa lembrar que Vinterberg foi responsável, ao lado de Lars Von Trier, pelo movimento Dogma 95, que tem em Festa de Família sua maior produção.

Não bastasse as semelhanças propositais, há também aquela por acidente. O filme tem elementos bastante próximos à A Árvore da Vida, de Terrence Malick, que chega ao Brasil em 12 de agosto. Assim, além de Lars Von Trier nos oferecer um trabalho ainda mais pretensioso e arrogante que os anteriores, o fruto aparece como um requentado, que apesar do disfarce de uma trama inédita e inusitada, e do tempero da ótima fotografia e das atuações brilhantes, não tem o sabor das obras anteriores do dinamarquês.

Assista ao trailer:

Melancolia (Melancholia, 2011, Dinamarca/Suécia/França/Alemanha)
Direção:
Lars von Trier
Roteiro: Lars von Trier
Elenco: Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg e Kiefer Sutherland
136 Minutos