Arquivo para outubro \29\-03:00 2010

Federal

Na luta pelo tráfico de drogas, uma equipe do grupo de elite da polícia leva vantagem por ser incorruptível, mas não se preocupa em usar a tortura para conseguir o que quer. No comando do grupo, um oficial angustiado, sem conseguir dar à mulher, grávida, a atenção que ela merece, por causa de sua função. A história bem parece Tropa de Elite, mas é Federal, de Erik de Castro.

Carlos Alberto Riccelli vive o delegado Vital, da Polícia Federal, que comanda um grupo que tenta levar para a cadeia o poderoso Béque Batista (Eduardo Dusek), responsável por colocar Brasília na rota internacional do tráfico de drogas. Dentre seus agentes está Daniel (Selton Mello), um jovem ainda chocado pela violência policial.

A dificuldade de levar o filme à tela provavelmente deve fazer Erik ser visto pelos espectadores como um imitador de José Padilha. As imensas semelhanças de Federal e Tropa de Elite, no entanto, são coincidentes, já que o longa de Erik foi realizado em 2006, mas apenas agora chega aos cinemas. Ao mesmo tempo, no entanto, o sucesso de um deve alavancar a bilheteria do outro.

As semelhanças, no entanto, não chegam à qualidade dos filmes. O cineasta não consegue comandar tão bem seu elenco, e até mesmo Selton Mello, elogiado e tido como um dos melhores atores de cinema da atualidade, tem uma interpretação sofrível. Daniel, seu personagem, ensaia um drama existencial mas não chega a causar empatia ao público.

A busca dos policiais para conseguir incriminar o traficante também falha em muitos pontos. Logo no início do filme, dois agentes vão a uma roda de capoeira e perseguem um dos lutadores para pegar informações sobre o tráfico com ele. A cena é pouco explicativa e esquecida logo no enredo, o que acontece com muitas outras cenas e personagens.

Pouco objetivo, é difícil entender onde Erik de Castro quer levar seu espectador. Apenas no final do filme que se entende a mensagem do diretor em toda aquela trama. A moral, no entanto, acaba sendo ainda mais decepcionante do que o resto da obra.

Originalmente publicado no Portal Terra.

Federal (2010, Brasil)
Direção:
Erik de Castro
Roteiro: Erico Beduschi e Heber Moura
Elenco: Selton Mello, Carlos Alberto Riccelli e Michael Madsen

Tropa de Elite 2

Na mesma semana em que o deputado federal mais votado do Brasil é eleito dizendo que “pior do que está não fica”, o agora Coronel Nascimento (Wagner Moura) discorda afirmando que “nada é tão ruim que não possa piorar”. E em Tropa de Elite 2, os deputados são parte de um sistema em que não há como escapar. E nele, ninguém é inocente.

Mais do que um simples filme de ação, a continuação de um dos maiores fenômenos recentes do cinema nacional abre o leque e atira para todos os lados. E a mira do diretor José Padilha é tão precisa que qualquer um torna-se alvo fácil. Porém, coincidentemente ou não, o filme só chega aos cinemas depois das eleições, evitando seu maior confronto.

Padilha, que já batia com destreza desde os tempos do documentário Ônibus 174, apresenta um amadurecimento. Ao contrário de seu atual protagonista, o cineasta sabe bem o seu foco e faz um roteiro mais apurado. Mesmo que em um universo mais amplo, o diretor traz uma obra ainda mais contundente e rica.

Anos depois do primeiro filme, e já com o filho crescido, Nascimento percebe que sua luta não surte efeito. Após ser afastado do Batalhão de Operações Policiais Especiais, o BOPE, o Coronel ganha do governador um cargo de importância dentro do serviço de informação da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro.

Se a vida profissional parece mais tranquila, a pessoal não. Rosane (Maria Ribeiro), sua ex-mulher, está agora casada com um de seus maiores adversários, o Deputado Fraga (Irandhir Santos), um intelectual de esquerda que luta por tudo o que Nascimento mais despreza: os Direitos Humanos dos criminosos. Para piorar, Fraga tem como um de seus aliados Rafael, o filho do Coronel.

Enquanto no primeiro filme o herói lutava contra o tráfico, agora ele percebe que este inimigo já não é mais uma ameaça. É a própria polícia do Rio de Janeiro, sob o comando do alto escalão da política nacional quem ameaça o bem estar da população sob a forma das milícias. E mesmo que ameace o povo, estas milícias conseguem o apoio popular, o que dificulta ainda mais o combate.

Se no primeiro filme, Padilha foi acusado de fascista, agora não será diferente. O Deputado Fraga, que tanto incomoda Nascimento, é justamente a voz daqueles que o acusaram, e nem ele se salva. Em sua luta pelos direitos dos criminosos, o personagem comete erros, e também vence batalhas em causa própria.

Assim como em Tropa de Elite, boa parte do público sai do segundo filme com a certeza de que uma arma na mão pode ser a solução para qualquer problema. Mas se Nascimento não tivesse agido como antes, seus problemas de hoje não existiriam. Ele também é culpado. Assim como é aquele que vota com a certeza de que nada mais pode piorar.

Originalmente publicado no Portal Terra.

Tropa de Elite 2 (2010, Brasil)
Direção:
José Padilha
Roteiro: José Padilha
Elenco: Wagner Moura, Irandhir Santos e Maria Ribeiro
116 Minutos