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A Princesa e o Sapo

O mais surpreendente no novo filme da Disney, A Princesa e o Sapo, não é o fato dele ser 2D, depois de tantas produções feitas em computação gráfica, nem mesmo por sua protagonista ser uma negra. A maior surpresa da animação infantil é ela ter sido feita para crianças. Depois de anos, é a primeira vez que um grande estúdio se lembra quem é seu público alvo. Hoje, preocupados mais com bilheteria, os roteiristas se ocupam em encher o filme de piadas para adultos, restando para os pequenos apenas personagens bonitinhos com bordões fáceis.

Depois de obras como Wall-E e Up, da parceria com a Pixar, a Disney optou por voltar aos seus tempos áureos em que retratava o mundo encantado das princesas – bem longe, aliás, da desconstrução que faz em Encantada. O nobre universo, assim, volta junto com os traços feitos a mão, que tinham sido deixados para trás desde Nem Que a Vaca Tussa, de 2004, e com a pretensa inocência que tinham os filmes infantis antes de descobrirem que jovens casais também poderiam se divertir – e consumir – esse tipo de obra.

Apesar do título, A Princesa e o Sapo não conta a história de uma princesa. Tiana, protagonista do longa está mais para uma vassala. Moradora da periferia de Nova Orleans, a heroína tem como ambição montar um restaurante, como era o sonho de seu esforçado pai. Para isso, ela dedica quase 24 horas de seus dias para o trabalho, não sobrando tempo para a diversão. O contrário é o príncipe Naveen, que tem uma vida boêmia sem responsabilidades, a ponto de seus pais tirarem tudo o que ele tem. Quando o falido nobre vai à Nova Orleans, conhece um feiticeiro vodu que o transforma em sapo. Pensando que Tiana é uma princesa, o malandro a convence a beijá-lo, transformando-a também.

Como não poderia deixar de ser, como se trata de um filme Disney, a moral é o ponto forte da obra. Durante boa parte da trama, os dois anfíbios estão em uma jornada para voltarem a ser humanos. Neste caminho, vão percebendo que para isso precisam se preocupar mais com aquilo que deixaram para trás durante suas vidas: a diversão, no caso dela, e a responsabilidade para ele. A história ainda resgata algo de Mágico de Oz, quando os personagens cruzam com um crocodilo músico, que sonha se tornar humano para não assustar ninguém ao tocar, e um vagalume sonhador, apaixonado por uma brilhante estrela.

Longe de ser um sinal de fracasso de bilheteria, a ousadia da Disney de honrar suas origens pode pegar de surpresa algumas pessoas já desacostumadas aos filmes infantis para crianças. Independente das polêmicas já causadas antes mesmo de seu lançamento – e há muitas passagens que ainda podem ser questionadas pelo caráter racista –, o longa ainda tem qualidades para agradar e emocionar o público. Mesmo que para isso, não seja preciso apelar para aquelas piadas em que adultos riem muito mais do que as próprias crianças.

A Princesa e o Sapo (The Princess and the Frog, 2009, EUA)
Direção:
Ron Clements e John Musker.
Roteiro: Ron Clements
97 Minutos

Wall-E

É cada vez mais difícil acreditar que a Disney segue sua linha de fazer filmes para crianças. Pode ser que sejam filmes com uma moral, mas ultimamente eles andam explorando temas bastante adultos. O novo, Wall-E, segue este caminho e sua mensagem chega a ser até um pouco indigesta para alguns adultos. Para os menores, pode ser que ele não consiga expor de uma forma muito clara o que pretende, principalmente pelo carisma das figuras presentes, mas mesmo assim deve causar alguns questionamentos.

A animação fala sobre um solitário robô da linha Wall-E (Waste Allocation Load Lifters – Earth Class, ou simplesmente Levantadores de Carga e Distribuição de Dejetos da Terra). Depois de mais de sete séculos largado pelos humanos, que decidiram sair do planeta por não suportar o acúmulo de lixo, o personagem resiste fazendo seu trabalho. Colecionando objetos deixados pelos ex-terráqueos, ele acaba criando uma memória afetiva, o que lhe dá um pouco de humanidade.

Contando apenas com a companhia de uma barata, ele sente a solidão apertar cada dia mais. É quando chega uma nave que traz um novo robô à Terra, Eva, programada para explorar o local e tentar achar alguma forma de vida por aqui. Apesar de ter um temperamento um pouco explosivo, ela logo se torna alvo da paixão de Wall-E. Quando ela precisa ir embora, ele larga seu ofício, mesmo que ele seja apenas um robô programado, e decide ir atrás de seu verdadeiro amor.

Até então, mesmo com a lição ecologicamente correta, de que se não cuidarmos do nosso lixo precisaremos fugir do planeta, pode ser considerada uma típica narrativa infantil, com uma comédia romântica. A questão é quando os humanos aparecem no filme. Acostumados a usar o computador para tudo o que precisa, inclusive para se comunicar e para amar, os homens e mulheres de 2700 se tornam totalmente dependentes da máquina, chegando a nem mesmo saberem mais como se anda, sem ser com uma cadeira flutuante.

De fato, não é incomum nos cinemas este embate do homem versus máquina, que ocorre na animação. O filme, que pode ser encarado como um Inteligência Artificial que se encontra com 2001 – Uma Odisséia no Espaço nas terras de Matrix, se torna ainda mais reflexivo por não ser complacente com os seres humanos, como os dois últimos. Mesmo que infantil, a animação é dura ao mostrar que a máquina não tem culpa nenhuma da degeneração do homem, mas que apenas este é o responsável.

Claro que é possível fazer uma leitura bastante simplista do longa. Afinal, a função de um blockbuster, como este pretende ser, e é, é a de ser simples o suficiente para ser entendido por qualquer um, mesmo que tenha alguma profundidade para ser apreciado pelos mais exigentes. Independente se encarado como um filme infantil, um grande blockbuster, ou um tapa na cara da humanidade, Wall-E é muito eficaz no que propõe, e não é difícil dizer que a Disney, junto à Pixar, colocou nos cinemas um dos melhores filmes do ano.