Arquivo para janeiro \13\-03:00 2007

A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima – Clint Eastwood

Estamos sempre em constante evolução, uma grande prova disso é um certo ator e diretor de Hollywood, de nome Clint Eastwood. Quando se imaginava que quase nada mais podia se esperar do famoso cowboy, ele surpreende a todos com um incrível talento como diretor. O que poderia ser apenas um caso raro, quando em 2003 ele apareceu com Sobre Meninos e Lobos, mostrou-se como uma nova faceta do diretor que, aos 77 anos, não se permite mais errar. Depois de Menina de Ouro ele aparece com um dos projetos mais originais do cinema americano, mostrar a guerra sob os dois pontos de vista, sem vantagens para nenhum dos lados.

A guerra escolhida para ser retratada foi a batalha de Iwo Jima, durante a Segunda Guerra. Iwo Jima é uma ilha do Japão, que representava um local estratégico, já que os EUA poderiam usá-la como base para atacar o país. Dois filmes foram feitos, A Conquista da Honra, a partir de um livro escrito pelo filho de um enfermeiro, mostra o lado americano, e Cartas de Iwo Jima, baseado em um livro de cartas de um General, contando a visão japonesa.

A Conquista da Honra gira em torno de uma simples fotografia que representou muito para essa batalha. A foto de uma bandeira americanas sendo erguida por seis soldados fez com que a opinião pública aceitasse melhor a guerra e apoiasse o governo, o que foi fundamental para a vitória. Para isso, os EUA contou com a ajuda dos três sobreviventes da foto, o enfermeiro John Bradley e os soldados Rene Gagnon e Ira Hayes.

Em Cartas de Iwo Jima, é mostrado como o general Kuribayashi lutou para conseguir se impor frente a um exército de mais de vinte mil homens, com um plano que parecia loucura – construir túneis para atacar de dentro de cavernas. A dificuldade de convencer a todos que seu plano era eficaz aumentava por ele já ter morado nos EUA. Além de lutar contra os americanos, os seus soldados tinham que sobreviver às más condições de vida na ilha de enxofre.

Enquanto o primeiro filme divaga sobre a necessidade ou não de escolhermos heróis – Brecht disse que “pobre do país que precisa de heróis”, e é mais ou menos disso que se fala, ou quem sabe do pobre herói que é requisitado pelo país –, o segundo fala sobre a esperança ou a perseverança. Mesmo tendo sido derrotados, mesmo sabendo que iriam ser derrotados, os japoneses lutaram de maneira honrada, pelo país.

Eastwood criou dois grandes filmes que se complementam, mas que ao mesmo tempo conseguem sobreviver de forma independente. Em nenhum dos dois filmes se tenta retratar o lado inimigo como se faz em muitos filmes de guerra, o que evita qualquer visão estereotipada. O outro lado pode ser visto praticamente só no outro filme, recebendo o mesmo tipo de tratamento. Difícil dizer qual filme é melhor ou pior. Há grandes diferenças entre eles, mas há presente em ambos a mesma sensibilidade de um grande diretor.

Infernal Affairs X Os Infiltrados

Não se pode negar a importância de um cineasta como Martin Scorsese, mas quando se tem elementos suficientes para se comparar uma obra sua, em pé de igualdade, com uma obra de um cineasta desconhecido, e este leva vantagem, o que se pode dizer? Apesar de muito comentado no submundo dos conhecedores de cinema oriental, nunca havia parado para assistir o chinês Infernal Affairs. Até que resolvi ceder, principalmente pela campanha que Os Infiltrados está tendo rumo ao Oscar, e vi o longa chinês. Foi tamanha minha admiração pelo filme que acabei conferindo a cópia americana no mesmo dia.

Infernal Affairs é um ótimo filme. Assim como Os Infiltrados, o filme é sobre dois homens, um policial disfarçado de traficante e um traficante disfarçado de policial, no que acaba se tornando um jogo de gato e rato, entre os bandidos e a policia. Ambos tem cargos de destaque na instituição em que estão infiltrados, mas não há ainda segurança suficiente que garanta que sairão ilesos.

Difícil dizer se é nítida a diferença de qualidade entre os dois filmes para quem viu em ocasiões diferentes, mas como vi os dois pela primeira vez no mesmo dia, posso dizer que a versão original leva muita vantagem. A começar pelo rio de sangue de Os Infiltrados, totalmente desnecessário, e ausente em Infernal Affairs. Ao que me parece, o primeiro filme tentou ser um pouco mais lírico, enquanto o outro apelou para o comercial. Aí está o grande erro de Scorsese.

Mudanças no roteiro são necessárias, mas há coisas que não se justificam. Qual o sentido de duas personagens da versão oriental virarem uma só na versão ocidental? Criar um triangulo amoroso? Não é disso que se trata o filme, então não tem razão. A personagem abolida, a meu ver, tinha uma grande importância dentro da trama, podia parecer bobo o livro que a namorada do falso policial – e não a psiquiatra do falso bandido – escrevia, mas a história de um homem com 28 personalidades, que não sabia mais quem era, dizia muito sobre o filme.

Os Infiltrados está fazendo um grande sucesso, ganhando diversos prêmios, mesmo não superando Infernal Affairs em praticamente nenhum momento, o que é uma grande injustiça, mas de se esperar. Mas é uma pena que se use tanta publicidade em detrimento de tantos pontos positivos que se pode encontrar no irmão desconhecido. Acho que Scorsese precisa colocar um pouco mais de poesia em sua vida.