127 Horas (127 Hours)
Não há como fugir da comparação entre 127 Horas, de Danny Boyle, e Na Natureza Selvagem, drama dirigido pelo ator Sean Penn. Ambos se baseiam em histórias reais de jovens norte-americanos que buscam um contato com a natureza, mas que acabam descobrindo, de formas trágicas, suas fragilidades como seres humanos. Se em 2007, Emile Hirsch emocionou como o recém-formado que queria viver no Alasca, desta vez é James Franco quem bota os nervos do espectador à prova no papel de um aventureiro que tenta desbravar os cânions.
Disposto a conhecer todos os desfiladeiros do Parque Nacional de Utah, Aron Ralston parte aos fins de semana a bordo de sua bicicleta para o local, descobrindo novos lugares a cada uma de suas aventuras pelos cânions. Em uma delas, porém, seu plano não sai como o esperado. Após um movimento em falso, Aron desloca uma grande pedra que cai em cima de seu braço, o imobilizando. Sem ter avisado a ninguém sobre o seu paradeiro, e em uma região totalmente erma, ele passa as 127 horas do título tentando encontrar uma forma de sair vivo de lá.
Mesmo conseguindo o feito de manter a sua própria vida, no entanto, não há como o personagem voltar para casa da mesma maneira em que entrou – e não está em questão ainda o braço, que ele tem que amputar sozinho para conseguir sair. Aqueles cinco dias em que passa preso, com quantidade bastante limitada de água e comida, são tempo mais que suficiente para que Aron repense a sua vida. Com bom humor e coragem, o homem de 28 anos revê muitas das escolhas erradas que fez, como não ter atendido ao telefonema da mãe, ou contado a ela onde iria naquele fim de semana.
Mais do que apenas uma opção dramática do filme, a cena se mostra bastante verossímil nas telas. Por mais que possa parecer uma medida para emocionar o público, o tempo em que o montanhista passou sozinho são mais que o suficiente para repensar sua vida amorosa e familiar, como faz o personagem de Franco. Pouco de história acontece no filme, maior é o que se passa na mente do pobre aventureiro. Assim, é fácil notar como ele lida com a situação nas cenas em que brinca com sua câmera de vídeo, simulando um animado programa de auditório em que ele é o astro e único espectador.
Sobre a comentada cena em que o montanhista decepa o seu próprio braço, não deve ter havido exagero. Se muitas pré-estreias registraram espectadores passando mal ou desmaiando durante a sessão neste momento, não é de se admirar que seja real e não algum golpe de marketing. São realmente fortes as imagens, mas nada despropositado. Seria, sim, fora do contexto se Boyle fizesse uma opção asséptica de poupar os espectadores do momento em que Ralston opta pela vida, em detrimento do próprio braço.
Durante o tempo em que se mantém preso, Aron tenta sempre preservar a sua sanidade. Apenas com ela o personagem é capaz de tomar a decisão que tomou, totalmente racional. Se esta opção foi o que o salvou, talvez seja exatamente esta a maior diferença entre esta história e a narrada por Sean Penn. Enquanto a solidão faz com que um dos jovens lute por horas para manter a razão, o outro se entrega à emoção, como nunca havia feito antes. Se Na Natureza Selvagem já mostrou que uma grande história rende um grande filme, 127 Horas prova mais uma vez que não é preciso muito para preencher as telas com emoções.
127 Horas (127 Hours, 2010, EUA/Inglaterra)
Direção: Danny Boyle
Roteiro: Danny Boyle e Simon Beaufoy
Elenco: James Franco
94 Minutos