O Palhaço
Se em Feliz Natal, Selton Mello optou por uma história mais intimista e hermética ao grande público, em seu novo filme, O Palhaço, que estreia nesta sexta, ele se esforça para se libertar deste mal, buscando um caminho que dialogue melhor com estas mesmas pessoas, de quem é ídolo. O diretor, desta vez, protagoniza o longa, sendo capaz assim de facilitar a identificação dele com o filme. Mais do que isto, o ator parece sofrer do mesmo mal de seu personagem, que vive uma crise existencial e precisa se reencontrar.
Benjamin, vivido por Selton, é um palhaço do circo Esperança, onde se apresenta ao lado de Valdemar (Paulo José), seu pai. Perfeccionista, o jovem toma para si a responsabilidade do local, mas não suporta o peso que ele mesmo tenta carregar. Enquanto o pai goza o que lhe resta da vida, ao lado de uma mulher bem mais nova, o filho não sabe aproveitar os pequenos momentos de felicidade que lhe aparecem.
Deprimido, o palhaço decide, então, abandonar o circo para descobrir qual é a sua verdadeira vocação. Se antes ele precisava se desdobrar para cuidar do bem-estar e das necessidades de cada um dos artistas, desta vez ele tem que aprender a tomar conta de si mesmo, algo que nunca lhe sobrara tempo de fazer. Sem ao menos um documento de identidade, Benjamin sai à procura de um emprego normal e de uma mulher que fique ao seu lado. Mais do que isto, ele faz uma grande busca interior, para saber quem é ele de verdade, o que nunca havia questionado antes.
Apesar de não ser incomum, a ideia de um palhaço com crise de depressão parece interessante para um filme, e causa certa curiosidade saber o que uma figura conhecida como Selton Mello pode fazer com este tema. Mesmo com muitos momentos engraçados e emocionantes ao longo da trama, no entanto, o resultado final é lento e maçante. A história se arrasta e parece não chegar a qualquer lugar que já não tenha estado. O filme, aliás, sofre do mesmo mal de Muita Calma Nesta Hora, que se apoia em esquetes de humor, com participações especiais, enfraquecendo o roteiro.
O Palhaço, no entanto, é superior à comédia de Felipe Joffily. Com atuações esplêndidas, principalmente pelas figuras do veterano Paulo José e da novata Larissa Manoela, que não se intimida em roubar a cena em diversos momentos no papel da pequena Guilhermina, o drama ainda conta com uma bela fotografia e uma inspirada trilha musical, que resgata canções bregas ao mesmo tempo em que apresenta novidades que se encaixam com maestria nas cenas. A escolha dos cenários ainda mostra um Brasil pouco conhecido, do interior de Minas Gerais, tornando o filme ainda mais interessante visualmente.
Uma das cidades filmadas, Passos, é a terra natal do agora diretor Selton Mello, o que deixa ainda mais claro o caráter auto-referente do filme. Se o personagem de Paulo José sabe com clareza que “o rato come queijo, o gato bebe leite e eu sou um palhaço”, tanto Benjamin, quanto o próprio Selton, parecem ainda não ter certeza do seu lugar. Sucesso de bilheteria em obras como A Mulher Invisível, Selton parece tentar negar seu talento para trabalhos mais populares, tentando criar algo mais intimista, mais artístico, sem com isso agradar nem quem prefere um cinema autoral, nem o consumidor do blockbuster. O nome do circo, no entanto, dá um sinal de que nada está perdido para a nova carreira de Mello, e O Palhaço, com seus problemas, já indica que o cineasta está mesmo no caminho certo.
Assista ao trailer:
O Palhaço (2011, Brasil)
Direção: Selton Mello
Roteiro: Selton Mello
Elenco: Selton Mello, Paulo José e Larissa Manoela
90 Minutos